O exemplo de alguém que caiu do cavalo
O jovem Saulo de Tarso, segundo nos contam os Atos dos Apóstolos, era ferrenho perseguidor dos cristãos: “entrava nas casas e arrastava para fora homens e mulheres, para colocá-los na prisão” (8,3). Alegrava-se quando um seguidor de Jesus era condenado à morte, como no caso do diácono Estevão (cf. 8,1), um dos adeptos da nova religião chamada de “o Caminho” (9,2). Encontrava-se totalmente fechado à mensagem de Jesus Cristo, seguro que estava de sua religião apegada somente a regras e leis. Gostava de viver do jeito e sentia-se ameaçado por qualquer proposta de mudança. Porque temia qualquer sopro de novidade que o desinstalasse do seu conforto, “só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor” (9,1).
Mas um dia uma luz brilhou para ele, e “sua ficha caiu”. Deu-se conta da grandeza e da bondade de Jesus, maltratado por Saulo na pessoa dos seus discípulos: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (9,4). Diante dessa tomada de consciência, o jovem perseguidor dos cristãos literalmente caiu do cavalo em que viajava e viu-se irresistivelmente motivado a mudar o rumo da sua vida.
O texto bíblico diz que, logo após essa experiência, Saulo experimentou uma cegueira temporária, como se escamas lhe recobrissem os olhos, condição da qual só se livrou quando o cristão Ananias lhe impôs as mãos, invocando o Espírito Santo e batizando-o. Então, caíram-lhe as escamas dos olhos e ele passou a ver.
Todos se impressionaram com a força nova que passou a mover a vida de Saulo, a força do Espírito Santo. Ele “se fortalecia cada vez mais e deixava confusos os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Messias” (9,22). Não demorou a, de perseguidor, passar a perseguido, pois, “passado algum tempo, os judeus fizeram umm trama para matar Saulo” (9,23).
Cair do cavalo é doloroso e difícil...
Se nos assombramos com o fato de o apóstolo Paulo – nome pelo qual depois passou a ser chamado (At 13,9) – ter perseguido os cristãos de modo tão cruel, mais assombrados deveríamos ficar ao pensarmos que nós, cristãos, estamos em situação pior que a dele. Ele, que era judeu, perseguia os cristãos. Nós, que já somos cristãos e trazemos a graça do batismo em nosso peito, agimos como perseguidores de Cristo e sufocamos o crescimento do seu reino no mundo. Quando insistimos em fazer as coisas do nosso jeito, esquecendo-nos do Espírito Santo, somos “o reino que se divide contra si próprio” (Mt 12,24), tão abominado por Jesus. Somos o evangelho que estrangula a si próprio, a Igreja que persegue e mata a si própria.
Por mais triste que possa parecer o fato de sufocarmos a graça de Deus em nós mesmo, nós o fazemos porque preferimos o conforto ao risco, o sossego à mudança, o prazer passageiro da maldade à paz imortal do bem. É mais prazeroso e confortável montarmos garbosos o cavalo de nossas próprias vidas, para que todos nos vejam e aplaudam nossa soberania, independência, autonomia. “Quem manda na minha vida sou eu e mais ninguém” – é uma frase nada difícil de ser ouvida por aí. Em outras palavras, é gostoso, mas nem sempre é bom.
Só que Deus é maior que nós. Os projetos dele não são os nossos projetos. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os caminhos de Deus estão acima dos nossos caminhos (cf. Is 55,8). Além disso, “Deus é amor” (1Jo 4,16): ele – e apenas ele – sabe o que é melhor para nós. Por isso, converter-se é fazer, como São Paulo, a experiência de “cair do cavalo”: diante da bondade de Deus que nos ama, dar-nos conta de que estamos perdendo tempo em ficar nos exibindo como senhores de nós próprios. Se posso começar uma vida melhor a partir de agora, com o Espírito de Deus me iluminado e me fazendo cada vez mais forte, por que esperar mais?
Cair do cavalo é ruim, desconfortável, até vergonhoso. Além de ficarmos esfolados e doloridos, passamos a ideia de que ao manejamos bem a nossa vida. Do mesmo modo, abandonar um estilo de vida a que estamos habituados nunca é fácil. Dependendo do caso, encontraremos mais pessoas para zombar de nós e para nos perseguir do que para incentivar a mudança para melhor.
...mas é melhor ver a vida com novos olhos!
Conversão, em grego, é “metanoia”, palavra que significa “mudança de alma”. Converter-se é mudar radicalmente o caminho da vida. Entretanto, ainda que, a exemplo de São Paulo, muitos vivenciem experiências de Deus tão fortes, que os façam abandonar as escamas que lhes cobriam os olhos, a conversão é atitude que se deve processar no dia a dia. Cada pequenino momento de oração, de reflexão, de exame de consciência é um encontro com Deus que nos permite, como aos magos do Oriente, “seguir por outro caminho” (Mt 2,12). Um momento de oração atinge seu objetivo quando nos anima a levar uma vida nova, a caminhar “nas estradas de Jesus”.
Um exercício para a conversão
Santo Inácio de Loyola, nos seus Exercícios espirituais (EE 24-26), aconselha a fazer “três tempos” de exame de consciência todos os dias, a fim de que o cristão possa afinar cada vez mais a sua vida com a de Jesus:
Que tal experimentar?
Oração a Santo Inácio de Loyola
Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória também.
O meu entendimento e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo, vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes, com gratidão vos devolvo.
Disponde deles, Senhor, segundo a vossa vontade.
Dai-me somente o vosso amor, vossa graça, isto me basta, nada mais quero pedir.
Silvia Cristina
QUE DEUS TE ABENÇOE!
São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate; sede nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a satanás e a todos os espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.