ABORTO

Numa sociedade fundada sobre o princípio do prazer, o que conta mesmo é gozar. Gozar sem conceber, conceber sem dar à luz. Tocamos aqui no assunto do aborto – um ultraje que pesa duramente sobre o mundo. Uma atrocidade que só encontra paralelo nos horrendos cultos a uma divindade antiga chamada Moloc. Tratava-se de um ídolo imenso de bronze ou de ferro, com os braços móveis, presos com dobradiças nos cotovelos e uma fogueira nas entranhas. Sua boca se abria e fechava, e nela eram lançados bebês vivos, numa forma de sacrifício para aplacar sua ira. São barbaridades que nos enchem de horror.

            No entanto, se olharmos para nossa geração, veremos que seus métodos não são menos bárbaros e cruéis que os antigos.

            Mas não resta dúvida de que, de todas as práticas de chacinas de bebês, a do aborto é a mais repulsiva e generalizada. Repulsiva porque consiste na invasão do claustro materno, onde um pequenino ser humano se encontra em formação, e ali é brutalmente torturado, sem nenhuma anestesia, sem poder soltar um gemido, sem qualquer  demonstração de consolo da própria mãe. A mais generalizada, porque verdadeiras multidões são dizimadas assim, friamente, diante do olhar indiferente da sociedade. Apesar de a medicina deixar bem claro que a vida humana inicia no ato da fecundação, cada ano milhões de bebezinhos, em vários estágios de gestação, alguns com seus órgãos já funcionando, que podem respirar e engolir, que são sensíveis aos ruídos e à dor, são trucidados no ventre de suas mães. E com inomináveis requintes de crueldade: asfixiados, corroídos por uma solução concentrada de sal injetada no útero, ou esquartejados e arrancados aos pedaços.

            E não digam que se trata de casos raros. Nos EUA, a proporção é de dois abortos para cada cinco nascimentos. Sem dúvida, é o grande pecado de nosso tempo, pelo qual Deus vai julgar esta geração. Quando a criança não é desejada e acolhida em casa, “a alucinação do consumo e o gozo da vida exacerbam o egoísmo, frustrando a vida em comunhão. Não há mais lugar para a família.”

Homicídio generalizado

As consequências desta prática nefasta não param aqui. Algumas delas foram lembradas pela Madre Teresa de Calcutá, quando, por ocasião de um Dia Nacional de Ação de Graças, fez estremecer uma audiência de mais de 3000 pessoas (entre as quais Bill Clinton, o ex-presidente norte-americano que mais leis assinou contra a vida), disse:

“Hoje a maior ameaça à paz é o aborto, porque aborto é guerra contra a criança. A criança inocente morre pelas mãos da própria mãe. E se nós aceitamos que uma mãe possa matar seu próprio filho, como se pode pedir aos outros que não se matem? O país que admite o aborto não está ensinando seu povo a amar e sim a aplicar a violência para conseguir o que quer: Por isso, o aborto é hoje o maior destruidor da paz e causa a cegueira em relação ao doente, ao faminto, ao nu...
Para que recorrer à guerra, quando a vida é tão frágil, destruí-la se torna tão trivial, tão clínico, tão fácil? Se as crianças podem ser assassinadas muito mais eficientemente e fora das vistas das câmeras de televisão?”

Não está aí o nosso mundo a comprová-lo? Partindo do assassinato de criancinhas, o crime de homicídio vai penetrando em todas as áreas, tornando-se uma ocorrência cotidiana: assaltos de rua em plena luz do dia, resultando em mortes, matar por prazer, matança de reféns, lançamento de bombas, sequestros, ataques de quadrilhas e massacres. Homicídios, homicídios, homicídios, para onde quer que olhemos. Todos inspirados na mesma fonte: Satanás, que é “homicida desde o princípio” (Jo 8,44).